Departamento Técnico da GIFEL Engenharia de Incêndios O CO2 e a
natureza: O dióxido de carbono, ou anidrido
carbônico é um composto químico constituído por dois átomos de oxigênio e
um átomo de carbono. A representação química é CO2. O dióxido de carbono foi descoberto pelo escocês
Joseph Black em 1754. É um elemento importante no
ciclo vital de vegetais e de animais, incluindo os “homo sapiens”, como
veremos.
Os animais ao respirarem tomam
oxigênio da atmosfera e o devolvem na forma de dióxido de carbono. Por outro
lado, as plantas retiram este gás do ar e o utilizam na fotossíntese. Este
processo denominado ciclo do carbono é vital para a manutenção dos seres vivos. Estruturalmente o dióxido de carbono
é constituído por moléculas de geometria linear e de caráter apolar. Por isso
as atrações intermoleculares são muito fracas,
tornando-o, nas condições ambientais, um gás. Daí o seu nome comercial gás
carbônico. O CO2, mantido em determinadas quantidades no ar
atmosférico, é um dos gases responsáveis pela manutenção da temperatura
terrestre. Sem este gás a Terra seria um bloco de gelo. Por outro lado, são
importantes os esforços que estão sendo feitos para evitar um excesso de CO2
liberado na atmosfera para que não ocorra o impedimento da saída de calor,
provocando um aquecimento do planeta denominado efeito estufa. Falar de CO2 e efeito estufa pode levar a uma análise dos
vilões deste fenômeno, basta saber quem é quem neste caso... Avalia-se que 77% do efeito estufa é
provocado pelo dióxido de carbono, produzido principalmente por automóveis,
indústrias e termelétricas. Mas há a contribuição do metano (CH4)
que com seus 14% vem em segundo lugar. Embora a concentração de metano na atmosfera seja bem menor
que a de dióxido de carbono, ele é capaz de reter 21 vezes mais calor. Já se
sabia que o metano era produzido por flatulência dos animais ruminantes,
plantações de arroz, pântanos, colônias de cupins e depósitos de lixo. Agora, pesquisadores alemães constataram que as florestas,
antes consideradas defesas naturais contra o efeito estufa, também emitem
metano. No início de 2006 o Instituto Max Planck, da Alemanha, divulgou uma
pesquisa que demonstra que as plantas produzem quantidades elevadas de gás
metano, justamente um dos vilões do aquecimento do planeta. Até hoje se pensava que, em seu ciclo de vida, as plantas
emitissem apenas oxigênio. O metano, assim como o dióxido de carbono, o óxido
nitroso e os fluorcarbonetos, gases tóxicos
produzidos em sua maior parte pela atividade humana, concentra-se em
quantidades cada vez maiores na atmosfera, impedindo que o calor dos raios
solares que chegam à Terra se disperse adequadamente.
O resultado é o chamado efeito estufa. A descoberta dos cientistas alemães mostra que as grandes
florestas tropicais, celebradas como pulmões do planeta, na verdade podem dar
sua cota de contribuição para o aquecimento global. Características do CO2: O CO2 – Dióxido de Carbono é um gás abundante,
não corrosivo que não fomenta a combustão nem reage com a maioria das substâncias.
Tem um baixo grau de toxidez. É incolor e inodoro, assim, para aplicações de
combate a incêndio em ambientes fechados costuma ser odorizado
para que sua presença seja facilmente percebida. É um “agente limpo” por excelência, pois suprime o fogo sem
deixar para trás resíduos normalmente associados à água,
espuma ou pós-químicos secos que possam causar danos a equipamentos
sensíveis. Como não há resíduos para serem limpos após uma extinção a volta à
operação é mais rápida. O CO2 é normalmente associado ao efeito estufa,
sendo inclusive parâmetro para a medição deste efeito (GWP=1)1,
porém o agente utilizado como meio extintor, em sua obtenção, não está incluído
neste conceito por ser um reaproveitamento de CO2 existente
(capturado, filtrado, liquefeito e colocado em cilindros ou tanques), que é
devolvido ao meio ambiente por ocasião do uso. O impacto de um sistema de CO2 para o efeito estufa é, sob
certos aspectos, irrelevante2. Quer porque o agente armazenado não
representa a geração de CO2 novo para lançamento na atmosfera - antes é uma
postergação de tal fato, já que o agente para combate é um subproduto de
processos existentes, quer porque a contribuição fortuita decorrente da
descarga de um sistema representa pouca quantidade de gas
emanado, em comparação com a geração oriunda das queimas de combustíveis
fósseis, emanações naturais, etc.
Com referência a emanações naturais, é possível fazer uma
comparação que ilustra na prática o que foi dito sobre efeito estufa.
Considerando um sistema fixo de CO2 de tamanho médio, com Levando-se em conta que as descargas de sistemas de combate
a incêndio não ocorrem de modo periódico e regular, mas apenas em casos de
incêndios, ve-se que a contribuição de um sistema
fixo é mínima. Por outro lado, há que se considerar que a produção de
vapores, gases tóxicos e do gás carbônico resultante da queima dos materiais
envolvidos em um incêndio, adicionado ao risco de perda de materiais e vidas
envolvidos, representa potencial de dano muito mais sério. Todavia, isto não
representa que a contribuição para o efeito estufa seja irrelevante em produtos
de combate a incêndio. Todos os produtos químicos do tipo HFC, alternativos ao Halon, possuem um valor elevado de GWP de
sorte que ambientalistas, alguns paises e empresas
preocupadas com o meio ambiente, restringem ou recomendam restrições à sua
utilização. A título de ilustração, e utilizando a figura do exemplo anterior,
o mesmo ambiente, protegido por “HFC-227ea” por exemplo,
iria requerer uma quantidade de aproximadamente 170 kg do agente com um GWP de
3.900. Isto representa a emissão não mais de uma vaca ao longo de um mês, mas
um rebanho de mais de 1500 vacas ao longo do mesmo período. O CO2 é um agente que não
agride a camada de Ozônio (ODP=0)3 e, portanto é considerado
ambientalmente inofensivo. O CO2 é um gás que não necessita de propelentes,
pois a sua descarga ocorre por pressão própria. Na ocasião do disparo é
observada a formação de uma névoa branca que resulta do resfriamento do ar e da
presença deste agente em seus três estados (sólido – gelo seco, líquido e
gasoso). A extinção com o uso do CO2 é obtida pela aplicação do
agente causando ou deslocamento (aplicação local) ou a redução do nível de
Oxigênio no local de risco. A falta de oxigênio livre decorrente de uma descarga de CO2,
e a característica asfixiante deste agente, determina que as áreas de risco
submetidas à inundação total sejam
evacuadas imediatamente e que o pessoal evite o CO2 que emana de aplicações locais. Sistemas com Dióxido de Carbono são eficazes em vários tipos
de fogo das classes A, B ou C. O CO2 expande na razão de 450 para 1
em volume e é eficaz em fogos de superfície, tais como em líquidos inflamáveis
e na maioria dos materiais combustíveis sólidos, podendo ser aplicado tanto por
inundação total de uma dada área ou
por aplicação localizada diretamente
sobre a superfície do material em chamas.
Outros atributos favoráveis são: o seu alto grau de
eficácia, sua excelente estabilidade térmica e o fato de ser isento de
deterioração. Devido ao grande número de aplicações comerciais do CO2
ele é facilmente encontrado em cidades maiores ou portos, facilitando e
reduzindo o custo da recarga. Mesmo não sendo um conceito novo, a proteção contra incêndio
por Dióxido de Carbono continua sendo muito utilizada graça à sua versatilidade
e benefícios únicos que incluem uma excelente relação custo/benefício. O uso de CO2 como meio
extintor se justifica, via de regra, para riscos onde um meio extintor não
condutor elétrico é essencial ou desejável, onde a limpeza pós-atuação de
outros tipos de agentes representa um problema ou onde obstruções na área de
risco requerem o uso de um meio extintor gasoso respeitando a sua
característica de extinção através da remoção do Oxigênio que implica em
cuidados com as pessoas próximas à área de risco.
Notas de Esclarecimento:
1- GWP – Global Warming Potential – é o potencial de determinados produtos em
causar o aquecimento da camada atmosférica do planeta, conhecido como
efeito-estufa. É uma medida relativa ao potencial do CO2 nocivo
liberado na natureza (não se aplica ao meio extintor obtido de maneira
específica) cujo GWP=1, calculado para um horizonte de 100, 500 e 1000 anos.
Quanto maior o valor, maior a contribuição negativa para o efeito-estufa,
considerando aqui as contribuições direta e indireta.
2- A EPA Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental)
registrou no Federal Register dos Estados Unidos, em seu Vol. 59 No. 53/18 de março de 1994/
Regras e Regulamentos, no item que trata do CO2 como substituto do Halon 1301 o seguinte:
3- ODP – Ozone Depletion
Potential – expressa o potencial de uma determinada
substância em causar danos à camada de Ozônio. Trata-se de uma medida relativa
ao potencial de destruição do CFC-11, que tem ODP=1. Quanto maior o ODP mais agressiva é a substância. O Halon
1301 tem ODP=10, sendo, portanto, dez vezes mais agressivo que o CFC-11. A
comparação entre os sistemas fixos de CO2 de alta e de baixa
pressão, um guia rápido destacando as características básicas de cada sistema. |